ARTIGOS

Papa Francisco, o Papa da Reconciliação

Seu legado de paz, diálogo e cuidado com a criação ecoa o apelo de Nossa Senhora da Salette

No dia 19 de setembro de 1846, em La Salette, nos Alpes franceses, duas crianças, Maximino Giraud e Melânia Calvat, testemunharam a aparição de uma “bela senhora”, Nossa Senhora, que, entre lágrimas, transmitiu uma forte mensagem de apelo à conversão e à reconciliação com Deus. “Se meu povo não quer submeter-se, sou forçada a deixar cair o braço de meu Filho”, disse a Virgem, denunciando a perda do sentido do domingo, o desrespeito ao nome de Jesus e a indiferença do povo diante dos sinais de Deus na criação. A partir dessa aparição nascem os Missionários de Nossa Senhora da Salette, com o carisma da reconciliação, que os inspira a serem testemunhas do amor misericordioso de Deus.

 

Esse apelo de Maria em La Salette encontra profundo eco no legado do Papa Francisco, falecido em 21 de abril de 2025. Desde o início de seu pontificado, Francisco se apresentou como um pastor próximo, que não temia as feridas do povo e que insistia na necessidade de uma Igreja que sai ao encontro, acolhe e reconcilia. Em sua exortação apostólica Evangelii Gaudium, ele declarou: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja doente pelo fechamento” (EG, 49). Seu olhar de misericórdia e sua atitude de diálogo constante, seja com outras religiões, culturas ou mesmo com os mais afastados da fé, refletiam a mesma urgência de reconciliação que Maria transmitiu em La Salette.

 

Francisco também ampliou o chamado à reconciliação para a relação da humanidade com a criação. Nas encíclicas Laudato Si’ (2015) e Laudate Deum (2023), ele alertou para os danos causados pela exploração irresponsável do planeta e exortou todos a cuidarem da casa comum. Na Laudato Si’ afirmou: “O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana” (LS, 13). Essa preocupação com a natureza ressoa profundamente com a mensagem de La Salette, que denunciava os sinais de degradação da criação como consequência da distância do ser humano em relação a Deus.

 

Até o fim de sua vida, o Papa Francisco permaneceu fiel a esse chamado à reconciliação. Em sua última aparição pública, na Páscoa de 2025, mesmo já fragilizado, enviou uma mensagem pedindo a libertação dos reféns em Gaza, denunciando a situação dramática da guerra e condenando o preocupante crescimento do antissemitismo no mundo. Sua voz, assim como a de Maria em La Salette, continuava a clamar pela paz, pela justiça e pela volta do coração humano a Deus.

 

O carisma da reconciliação, vivido pelos Missionários de Nossa Senhora da Salette, encontra no Papa Francisco uma inspiração viva. Sua vida e seu ministério recordam que a reconciliação não é apenas um ato pontual, ou apenas sacramental, mas um caminho permanente de conversão, cuidado e amor, capaz de transformar corações, comunidades e o próprio mundo, para que vivamos naquilo que o Cristo Ressuscitado deseja: “A paz esteja convosco”.

 

Equipe de Comunicação – Portal Salette