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Padre Adilson Batista Schio, MS
Um fato extraordinário como o de uma Aparição Mariana, mesmo se canonicamente diga respeito somente à Igreja particular onde ele aconteceu, tem suas repercussões para toda a Igreja. Desde o início, devido os segredos de La Salette e à criação dos Missionários como uma Congregação Religiosa Missionária, também pelo apelo que vinha da mensagem de que tudo aquilo devia ser transmitido a “todo o povo” de Maria, a implicação da Igreja com sede em Roma se fazia necessária e a prudência dos Bispos foram envolvendo através de notícias e pedidos de permissões a todos os Papas, sejam eles daquele tempo, sejam os mais recentes. Vamos fazer uma “viagem” pelo tempo, do hoje até os Papas mais antigos nesses 178 anos da Aparição de Nossa Senhora em La Salette, na França.
O Papa Francisco abençoou a coroa de Nossa Senhora da Salette por ocasião das comemorações dos 170 anos da Aparição, que coincidiu com o “Ano da Misericórdia”. Este fato se deu na Praça São Pedro, de Roma, quando após a Audiência Geral da quarta-feira, 18 de maio de 2016, o Papa Francisco abençoou a coroa que foi colocada sobre uma das primeiras imagens de Nossa Senhora de La Salette, venerada no Santuário de La Salette – França. A imagem foi trazida de carro até Roma e na oportunidade estavam presentes tanto o Superior Geral dos Missionários de Nossa Senhora da Salette como a Superiora Geral das Irmãs de Nossa Senhora da Salette.
No site do Vaticano foi publicado o seguinte texto naquela oportunidade: “Durante a Aparição de Nossa Senhora de La Salette, os peregrinos logo consideraram que quando Nossa Senhora subiu ao céu, ela olhava para Roma. Este olhar para Roma se materializa hoje, porque Nossa Senhora desceu da montanha para vir simplesmente ao coração da Igreja, para falar ao coração da Igreja. Isto é muito simbólico e forte já que neste dia o Santo Padre recebeu e abençoou a coroa de Nossa Senhora de La Salette”.
Francisco também escreveu uma carta aos membros participantes do 28º Capítulo Geral da Congregação, acontecido em Madagascar, no mês de abril e maio de 2024.
A primeira manifestação de João Paulo II sobre La Salette foi quando consagrou o Santuário de Nossa Senhora das Lágrimas, em Siracusa, na Itália, em 6 de novembro de 1994. Ali ele proferiu uma bela homilia, muito catequética, sobre o sentido das lágrimas de Maria. O Papa disse naquela oportunidade: “As lágrimas de Maria aparecem nas Aparições, com as quais Ela, de vez em quando, acompanha a Igreja no seu caminho pelas estradas do mundo. Maria chora em La Salette, em meados do século passado, antes das aparições de Lourdes, num período em que o Cristianismo na França viveu uma hostilidade crescente...”.
Mais tarde, por ocasião dos 150 anos da Aparição (1996), ele enviou ao Bispo de Grenoble, uma bela e muito significativa Carta. Essa Carta faz parte do acervo teológico dos escritos sobre Salette, já que ali o Papa faz uma bela afirmação dizendo que “Salette é uma mensagem de esperança”.
O Papa João Paulo II retomou parte desta Carta dos 150 anos quando escreveu também uma carta aos membros do Capítulo Geral da Congregação acontecido em Roma, no mês de maio de 2000. Eis alguns trechos dessa segunda carta: “Em nome da Igreja, agradeço de coração os esforços feitos nos últimos anos para expandir o campo de vosso apostolado, especialmente na Índia e nos países da Europa Oriental, com planos de se estabelecer em breve na Indonésia e em Mianmar… À luz da Mensagem de Nossa Senhora da Salette, vós atribuís um lugar importante ao ministério da reconciliação... Com efeito, ‘a Igreja, como comunidade reconciliada e reconciliadora, não pode esquecer que na origem do seu dom e da sua missão está a reconciliação como iniciativa, cheia de amor compassivo e misericordioso, daquele Deus que é amor e que por amor criou o homem e a mulher; e os criou para que vivessem em amizade com Ele e em comunhão uns com os outros’ (Reconciliatio et Paenitentia, n. 10)… Como escrevi por ocasião do 150º aniversário da Aparição de Nossa Senhora: ‘La Salette é uma mensagem de esperança, pois a nossa esperança se alimenta da intercessão daquela que é a Mãe da humanidade’ (Carta ao Bispo Louis Dufaux de Grenoble, 6 de maio de 1996). Que o anúncio desta esperança esteja sempre no centro do vosso encontro com os homens e as mulheres de hoje! Através dela, os nossos contemporâneos podem ter a certeza de que as divisões não são irreparáveis e que é sempre possível arrepender-se das próprias infidelidades, para construir uma humanidade reconciliada e seguir o Senhor, porque nada está fora do alcance de Deus”.
Em 1946, durante as festividades do Centenário da Aparição de Nossa Senhora da Salette, Sua Excelência Monsenhor Roncalli – que alguns anos depois se tornaria o Papa João XXIII – então Núncio Apostólico em Paris e representante do Santo Padre nas solenidades do Centenário da Aparição, dirigiu-se à multidão de peregrinos que estavam na Montanha da Salette, dizendo: “Trabalhamos muito pela paz, falamos muito em Paris nestes dias, mas nunca haverá pacificação entre os seres humanos sem sua reconciliação com Deus e isso não pode ser alcançado sem oração e penitência, por isso a mensagem do centenário de La Salette é mais do que nunca uma realidade premente... A verdadeira civilização se encontra no Cristianismo e a verdadeira paz na oração do Pai Nosso, que nos ensina a perdoar uns aos outros, a reconciliar-nos com Deus e com os nossos irmãos e irmãs”.
O Papa Pio XII, respondendo à uma carta do Bispo Raoul Jean Harscouët, Bispo de Chartres, na França, e na época presidente do 50º Congresso Mariano Francês, que foi realizado em La Salette por ocasião dos 100 anos da Aparição (1946), onde ele informava o Papa da realização do Congresso, Pio XII disse: “A França, ‘reino de Maria’, tão marcada pelos acontecimentos atuais [não havia passado nem um ano do término da Segunda Guerra Mundial], se unirá para celebrar o centenário da Aparição de La Salette e reavivar sua piedade filial para com sua augusta Protetora.”
Ao Superior Geral dos Missionários de La Salette, que lhe havia também anunciado a realização do Congresso Mariano e do Centenário, Pio XII enviou uma carta que começava assim: “A nossa devoção à Santíssima Virgem Maria, no Imaculado Coração, ao qual consagramos a Igreja e o mundo, só pode expandir-se perante as gentis perspectivas que a sua carta nos deixa ver sobre o próximo Centenário da Aparição de Nossa Senhora de La Salete… Sem dúvida, também, a celebração deste Centenário poderá contribuir muito para um renovado fervor espiritual, para a recuperação de um mundo ainda tão assolado pelas consequências da Guerra e especialmente o querido país da França, que queremos sempre afirmar, esperamos sinceramente, que seja para sempre na verdadeira felicidade e na sua plena prosperidade, o reino de Maria”.
Foi no Pontificado de Pio XII, mais exatamente no ano de 1943, que a Santa Sé, aprovou a Missa e o Ofício próprios de “Nossa Senhora Reconciliadora dos Pecadores de La Salette”.
Em 1937, o Papa Pio XI concedeu 500 dias de indulgência à recitação da oração do “Lembrai-vos” e 300 dias de indulgência à invocação “Nossa Senhora da Salette, reconciliadora dos pecadores, rogai sem cessar por nós que recorremos a vós”, aprovando assim essas duas orações como patrimônio da espiritualidade de La Salette.
O Papa Pio X recebeu em Roma, numa audiência privada, o Reitor do Santuário de La Salette (França), em 6 de dezembro de 1903. Na oportunidade, o Padre Reitor pediu ao Papa que abençoasse o Santuário e seus capelães, bem como seus benfeitores e peregrinos. A este pedido o Papa respondeu: “Sim, Sim! Todas as minhas maiores bênçãos... Minha primeira missa coincidiu com o décimo segundo aniversário da Aparição, em 19 de setembro de 1858”, e que por isso, acrescentou o Papa, ele tinha uma boa lembrança da “Virgem em lágrimas”.
Falando a Dom Pauliner, em audiência a 2 de fevereiro de 1879, que era então o Bispo de Grenoble, o Papa Leão XIII falou do “culto que se presta à Maria nos altos montes dos Alpes”, disse: “Quero dar uma nova consagração a este lugar por um duplo privilégio: primeiramente, de elevar à categoria de Basílica Menor o Santuário ali construído e, depois, por uma solene coroação da imagem de Nossa Senhora da Salette que ali está, ao que pedirei à Sagrada Congregação dos Ritos para fazê-lo”.
Tal coroação aconteceu em 21 de agosto daquele mesmo ano e foi presidida pelo Cardeal Joseph Hippolyte Guibert, Arcebispo de Paris, que foi o delegado do Papa para aquela cerimônia.
O Papa Pio IX foi quem recebeu e leu pela primeira vez os segredos escritos por Maximino e Melânia. Tendo recebido os Cônegos Rousselot e Gerin, enviados de Dom Philibert de Bruillard como portadores dos segredos, em 18 de julho de 1851, os abriu e leu na frente dos Padres, distanciando-se um pouco deles para fazer tal leitura, dizendo, ao ler o texto de Maximino: “existe a franqueza e a simplicidade de uma criança”.
O Padre Rousselot, relatando essa audiência ao Bispo de Grenoble, assim escreveu sobre este momento: “Sua Santidade deu-nos a entender que os infortúnios anunciados [no texto escrito por Maximino e Melânia] dizem respeito à França; mas acrescentou que o resto da Europa merecia uma parte das punições previstas. Por duas vezes Sua Santidade disse que o Fato de La Salette lhe parecia apresentar as características de verdade já que o Monsenhor Frattini, Promotor da Fé, tinha-lhe apresentado alguns documentos escritos e feito um relatório favorável dizendo-lhe de que de sua parte tudo parecia verdadeiro”.
Pio IX teria expressado, pouco antes de sua morte, o desejo de coroar a imagem de Nossa Senhora da Salette que estava no Santuário, porém não lhe foi possível, pois faleceu em 7 de fevereiro de 1878.