ARTIGOS

Carta do Papa João Paulo II para os 150 anos da Aparição de Nossa Senhora da Salette (1996)

Ao Monsenhor Louis Dufaux, Bispo de Grenoble.

A Diocese de Grenoble, os Missionários de La Salette e numerosos fiéis no mundo celebram este ano o 150º aniversário da Aparição da Santíssima Virgem Maria nessa localidade dos Alpes, de onde a sua mensagem não cessou de se irradiar. Uma comemoração como esta pode ser rica de graças; é-me grato participar nela, em união com os peregrinos que vão venerar a Mãe do Senhor com o título de Nossa Senhora Reconciliadora dos Pecadores.
Mãe do Senhor, Mãe da Igreja, Mãe dos homens, Maria acompanha todos na peregrinação da vida. Enquanto se intensifica a preparação para o grande Jubileu da Redenção, o ano consagrado ao aniversário da Aparição de Maria a Maximino e a Melânia representa uma significativa etapa. Maria, Mãe cheia de amor, nesse lugar manifestou a sua tristeza perante o mal moral da humanidade. Através das suas lágrimas, Ela ajudou-nos a discernir melhor a dolorosa gravidade do pecado, da rejeição de Deus, mas também a fidelidade apaixonada que o seu Filho tem para com os seus filhos, Ele que é o Redentor cujo amor é ofendido pelo esquecimento e pela recusa.
A mensagem de La Salette foi entregue a dois jovens pastores num tempo de grandes sofrimentos dos povos, atingidos pela penúria e expostos a numerosas injustiças. Além disso, a indiferença ou a hostilidade a respeito da mensagem evangélica aumentavam. Nossa Senhora, ao fazer-se contemplar, trazendo sobre si a imagem de seu Filho crucificado, mostra que, associada à obra da salvação, Ela se compadece das provas dos seus filhos e sofre quando os vê afastarem-se da Igreja de Cristo, a ponto de esquecer ou rejeitar a presença de Deus na sua vida e a santidade do seu nome.
A irradiação do acontecimento de La Salette confirma bem que a mensagem de Maria não se encontra totalmente no sofrimento expresso pelas lágrimas; a Virgem apela ao arrependimento; convida à penitência, à perseverança na oração e, sobretudo, à fidelidade à prática dominical; Ela pede que a sua mensagem “chegue a todo o seu povo” através do testemunho das duas crianças. E, com efeito, a voz delas far-se-á ouvir rapidamente. Os peregrinos hão de vir; verificar-se-ão numerosas conversões. Maria havia aparecido numa luz que evoca o esplendor da humanidade transfigurada pela Ressurreição de Cristo: La Salete é uma mensagem de esperança, pois a nossa esperança é sustentada pela intercessão d’Aquela que é a Mãe dos homens. As rupturas não são irremediáveis. A noite do pecado cede perante a luz da misericórdia divina. O sofrimento humano assumido pode contribuir para a purificação e a salvação. Para aquele que caminha humildemente pelas estradas do Senhor, o Filho de Maria não pesará o braço para condenar, mas conduzirá a mão que se estende para fazer entrar na vida nova os pecadores reconciliados mediante a graça da Cruz.
As palavras de Maria em La Salette, devido à sua simplicidade e rigor, conservam uma atualidade real, em um mundo que sofre continuamente por causa da guerra e da fome, e numerosas infelicidades que são sinais e, com frequência, consequências do pecado dos homens. E ainda hoje, Aquela que “todas as gerações hão de chamar ditosa” (Lc 1,48) deseja levar “todo o seu povo”, que vive as provas deste tempo, à alegria que provém do cumprimento pacífico das missões que Deus confiou ao homem.
Os Missionários de La Salette não têm deixado de aprofundar o estudo da mensagem de La Salette e dedicam-se a mostrar o seu valor permanente para o terceiro milênio que se avizinha. Eles têm, sobretudo, a tarefa de “fazer chegar ao povo” o apelo a renovar a vida cristã, que está na origem da sua fundação, na Diocese de Grenoble. Neste ano jubilar, convido-os a prosseguir com fervor a sua missão, nas diferentes regiões do mundo onde estão empenhados. De igual modo, dirijo todos os meus encorajamentos às Irmãs de La Salette e aos outros Institutos, cuja fundação e inspiração se relacionam com o acontecimento de La Salette. Peço à Mãe de Cristo, neste ano particular, que os assista na renovação espiritual que desejam e os auxilie nas suas tarefas de evangelização, com o dinamismo missionário que a Igreja espera deles.
Destas terras de Sabóia e de Dauphiné, onde a Virgem Maria faz ouvir a sua mensagem há um século e meio, o mesmo apelo ressoa ainda hoje para os numerosos peregrinos que se dirigem rumo a este Santuário, bem como para aqueles que vão a muitos outros santuários dedicados a Nossa Senhora de La Salette. Encorajo-os todos a confiar à Virgem Imaculada os sofrimentos e as esperanças deste mundo, à distância de poucos anos do grande Jubileu. Oxalá eles sejam as testemunhas da reconciliação, dom de Deus e fruto da Redenção para as pessoas, as famílias e os povos! A peregrinação os ajude a não deixar cair a sua vida cristã na tibieza ou na indiferença e a jamais esquecer de dar o primeiro lugar na sua vida a Cristo ressuscitado! Oxalá eles sejam no mundo os artífices da paz que o Senhor prometeu (cf. Jo 14,27) e permaneçam indefectivelmente persuadidos do valor inalienável da pessoa humana mais humilde!
Maria está presente na Igreja como no dia da Crucifixão, no dia da Ressurreição e no dia de Pentecostes. Em La Salette Ela manifestou, de modo claro, a assiduidade da sua oração pelo mundo. Ela jamais abandonará os homens que são criados à imagem e semelhança de Deus e aqueles a quem for concedido tornar-se filhos de Deus (cf. Jo 1,12). Oxalá Ela conduza para o seu Filho todas as nações da terra!
Ao confiar a Nossa Senhora da Reconciliação a comunidade diocesana de Grenoble, os Missionários de La Salette, bem como os Religiosos e as Religiosas que partilham a mesma espiritualidade, concedo, de coração, a todos a Bênção Apostólica.

Vaticano, 6 de maio de 1996.

PAPA JOÃO PAULO II