ARTIGOS

CRISTO É A NOSSA PAZ!

Queridos irmãos e irmãs, paz e reconciliação!

É com imensa alegria que nos reunimos hoje, mesmo que virtualmente, para concluirmos as atividades referentes à Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021. Temos consciência que, com esta celebração, a Campanha da Fraternidade não se encerra, pelo contrário, ela deve nos encorajar a permanecermos buscando a fraternidade, o amor e o crescimento mútuo em prol de um verdadeiro e sadio diálogo ecumênico.

Vivemos tempos difíceis. O mundo marcado pela pandemia do Coronavírus nos revelou uma realidade angustiante de se perceber. A polarização ideológica e político-partidária tem atingido todas as esferas da sociedade e, infelizmente, atingido até mesmo as nossas Igrejas. Percebemos, neste momento da história, que a humanidade tem perdido o senso de solidariedade, respeito, fraternidade e diálogo. Muitas vezes nos colocamos como “donos da verdade absoluta” e nos esquecemos de, assim como Pilatos, nos perguntar: “O que é a Verdade?”.

A verdade não é uma opinião relativa, um movimento político ou uma denominação religiosa. A verdade a que somos chamados a abraçar é uma pessoa: Jesus Cristo. Aquele a quem o Apóstolo Paulo diz ser “nossa Paz” (Ef 2, 14). Aquele que derrubou o muro de separação que existia entre judeus e gregos, pagãos e convertidos, escravos e homens livres (cf. Gl 3, 28). É para este Cristo que vos convido a olhar esta noite. O Senhor, após a sua cruz e ressurreição, ao perceber que o coração de seus discípulos estava angustiado (assim como os nossos corações se encontram no momento atual), entra no Cenáculo, onde eles estavam fechados por medo dos judeus, estende-lhes as mãos e oferece-lhes a paz como elemento restituidor de vida. Em seguida, sopra sobre eles o Espírito Santo. Espírito que os permite reconhecer que Jesus é o ponto de unidade que os ajuda a vencer todo medo e divisão ( cf. Jo 20, 19-23).

Fitemos o nosso olhar no Príncipe da Paz! Olhemos para Jesus e busquemos vê-lo como o nosso ponto de convergência. Somos diferentes, celebramos diferente, amamos diferente, temos estilos de vida diferentes, mas cremos no mesmo Senhor e Salvador que, em sua entrega total ao Pai, fez de sua vida um dom capaz de nos garantir a filiação divina. Ele, sendo Filho por direito, quis nos fazer participantes da sua filiação divina, a fim de que pelo seu sangue redentor nos fosse devolvido a paternidade que Deus Pai sempre sonhou para nós, seus filhos e suas filhas.

Se somos frutos do amor, por que a divisão? Se somos frutos do perdão, por que a discórdia? Se somos frutos da paz, por que a guerra? Se Cristo nos remiu e nos fez irmãos, por que insistimos em viver separados, julgando-nos mais santos, mais sábios, mais dignos do amor e da compaixão de Deus do daqueles que são diferentes que nós?

Ouso dizer que todas estas divisões são consequência da falta de um verdadeiro encontro pessoal com Jesus. Nós corremos o risco de conhecê-lo, cultuá-lo em nossas comunidades eclesiais, mas passar a vida inteira sem fazer um verdadeiro encontro com o Senhor. Todo aquele que se encontra com Ele, tem as suas vidas transformadas por sua palavra e atitudes. Quem se encontra verdadeiramente com Jesus converte a sua vida em evangelho vivo. Isto é, não condena o irmão por sua cor, raça ou condição sexual. Defende a vida e tem o olhar e o coração voltados para os pobres e abandonados. Os que se deixam encontrar pelo Senhor são chamados, em primeiro lugar, a uma conversão evangélica, conforme nos orienta o Papa Francisco. E em segundo lugar, ao anuncio profético do apelo paulino: “Em nome de Cristo, suplicamos-vos: reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20). Contudo, para que possamos viver este apelo, faz-se necessário que compreendamos que a Reconciliação almejada por Deus passa por todas as esferas da nossa vida humana. A reconciliação deve acontecer em primeiro lugar conosco mesmos e com a nossa história pessoal e familiar.

A tomada de consciência de quem nós somos sempre nos fará bem. Conhecer-nos, com todas as nossas virtudes e fragilidades, ajuda-nos a perceber que, apesar de nossas misérias humanas, nós somos frutos do grande amor que Deus tem por com cada ser humano. Reconhecer-nos fruto deste amor, nos levará a um profundo desejo de mudança de mentalidade, coração e atitudes. Tal mudança nos conduzirá à reconciliação com Deus e, consequentemente, com as outras pessoas. Pois, reconhecer-nos como “filhos amados”, exige de nós o reconhecimento de que pertencemos à grande família humana, que somos filhos do mesmo Pai do céu, que a todos ama e deseja que estejamos próximos d’Ele.
Tenhamos coragem, irmãos e irmãs, de mergulhar neste mistério de amor ao qual o Pai em Jesus Cristo nos chama!

Padre Tiago Costa, MS