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ABERTURA DO ANO MARIANO

19 setembro – 2020
Abertura do Ano Mariano
«Maria, caminho de esperança e paz entre as culturas»
(tema do ano)

Caros Confrades,
175 são os anos que nos separam desde que a “Bela Senhora” apareceu a Maximino e a Melânia sobre os montes de La Salette (França), em 1846.

Eles parecem tantos, e quase chegam a dizer que também são velhos, pois são afetados pelo peso e pela ferrugem que o tempo traz consigo. Se isso é verdade para muitas coisas que acontecem ao longo da história, não se aplica ao que aconteceu a 19 de setembro de 1846. O eco desse evento histórico de sabor profético e espiritual, com particular relevância eclesial, não terminou na segunda metade do século dezanove, mas chegou a até nós com toda a sua carga original de novidade e desafios para a Igreja e para o mundo.
É um aniversário em que todos somos chamados a vive-lo em primeira pessoa com constante empenho, alegria e entusiasmo, pois tem a ver com nossa vida e nossa vocação como religiosos e missionários saletinos.

Para que cada um de nós se aproprie, tanto quanto possível, da riqueza espiritual e carismática que dela emana, penso ser útil e também necessário fazer nossas as atitudes que caracterizaram a vida do povo de Israel a caminho da terra prometida e que se resumem nestes três verbos: lembrar, celebrar e perscrutar.

1. Lembrar
O dever de lembrança nos leva a não deixar cair no esquecimento o que aconteceu no passado e que teve um impacto de relevância significativa e emocional muito forte na nossa vida pessoal assim como na vida da sociedade e da Igreja. Isso convida-nos, para não dizer obriga-nos, a voltar às raízes do que somos hoje e restaurar o brilho e a substância da nossa identidade humana, religiosa e saletina. De facto, a aparição como tal é o evento inspirador da nossa presença na Igreja como Congregação religiosa dedicada ao apostolado da reconciliação (RdV, 1).

Além disso, olhar para o passado não significa “guardar cuidadosamente as cinzas” de uma certa experiência, mas redescobrir e recuperar aquele ardor religioso e missionário, aquela força e as profundas motivações que caracterizaram o seu início. Se hoje a nossa Congregação é aquela que é, devemos, antes de tudo, à graça e misericórdia de Deus, mas também à plena dedicação, tenacidade infalível e testemunho fiel daqueles que nos precederam na vida religiosa.

2. Celebrar
Sem memória, não pode haver verdadeira celebração digna desse nome. De facto, isso nos estimula a ver o evento evocado como um tempo de graça, pelo qual Deus quis entrar em contacto e diálogo com cada um de nós para fazer história connosco e dar-nos todo o seu amor e proximidade. Celebrar significa, como nos recorda a Bíblia, “fazer memória”, isto é, actualizar hoje e fazer reviver nos sinais o que Deus realizou para o bem de seu povo, mostrando-lhe o caminho a percorrer para segui-Lo.

Celebrar, além disso, significa reconhecer que, o que recebemos desde o início é simplesmente um presente, inesperado e imerecido, pelo qual agradecemos sinceramente. Para nós, Missionárias de La Salette, esse presente extraordinário identifica-se com a Aparição da Bela Senhora e com sua mensagem de acolhimento, a ser vivida pessoalmente e como comunidade religiosa e a de ser fielmente transmitida a todo o seu povo.
Celebrar significa, ainda, afirmar que Cristo era, é e será para sempre a “regra de nossa vida” (RdV, 7). Na verdade, enquanto, pendurado no peito da Bela Senhora, Ele não estava, por assim dizer, no centro da aparição e da mensagem proclamada na Santa Montanha?

3. Perscrutar
Este jubileu não deve ser reduzido a uma pura e simples “autocelebração”, um fim em si mesmo e com o risco de tornar estéril e vã toda a herança espiritual e carismática que nos é transmitida, mas tornar-se num verdadeiro laboratório de ideias e um trampolim de lançamento não só de estratégias novas de vida religiosa e comunitária, mas também de possíveis caminhos pastorais renovados e de acordo com as sensibilidades e necessidades do tempo presente. Isso traz consigo uma carga singular de renovação pessoal e comunitária e um grande desafio que nos leva a examinar novos horizontes para uma nova evangelização.

Talvez seja este o momento de nos perguntarmos que rosto gostaríamos que nossa Congregação assumisse no futuro próximo e que serviço útil ela pode prestar à Igreja e ao mundo de hoje. Além disso, em que aspecto da vida espiritual, eclesial ou social devemos colocar mais ênfase para que nosso carisma se torne promotor e fermento de uma Igreja renovada e reconciliada, bem como de um novo mundo onde as grandes expectativas de justiça, paz e fraternidade encontram aceitação e soluções adequadas e compartilhadas.

Por quê um “ano mariano” na Congregação?
Em 2021, o 175º aniversário da Aparição seja celebrado de forma solene em todo parte onde trabalham os Missionários e as Irmãs de La Salette, assim como os numerosos Leigos saletinos e amigos da Bela Senhora que chora. É este o auspício e orientação de fundo elaborado no Capítulo Geral da Congregação de 2018, que teve lugar a Las Termas (Argentina) em vista da celebração deste importante aniversário.

Para que esta celebração não passe em surdina ou seja improvisada e traga os frutos desejados, pediu-se, naquele momento, que ela fosse preparada no nível (pessoal, comunitário e da Congregação) para torná-la uma verdadeira fonte de graça e de renovação espiritual, carismática, pastoral e vocacional para cada missionário saletino e para o povo de Deus por ele servido.

A fim de que a desejada renovação espiritual e comunitária não se limite a uma autocelebração árida, complacente e mortificante de nós mesmos, se pede que deve realizar-se em acções concretas destinadas a abordar e aliviar algumas situações problemáticas de marginalização e de questões críticas encontradas no serviço pastoral e missionário (Capítulo Geral 2018, Decisão n° 1h), com uma atenção particular, naturalmente, aos efeitos negativos da pandemia que está a pôr em dura prova o mundo inteiro, especialmente as pessoas menos favorecidas e mais frágeis, doentes e idosas. É da responsabilidade de cada Província a tarefa de estudar e preparar, quanto possível, programas e projectos adequados para atender a essas necessidades do momento actual.

]Para que tudo isso possa ser assimilado da melhor maneira, foi proclamado em toda Congregação, um especial “Ano Mariano” de reflexão e oração (2020 – 19 setembro – 2021) para ser vivido nas comunidades e nos lugares onde os Missionários de La Salette exercem seu ministério fazendo memória, no sentido mais verdadeiro da palavra, da riqueza deste evento prodigioso que desde 1846 foi acolhido e reconhecido como um dom gracioso para a Igreja e para todo o povo de Deus.

Durante um ano, portanto, a partir de 19 de setembro de 2020, cada Missionário de La Salette, está convidado a retornar, com a mente e o coração, à raíz da sua vocação religiosa a fim de dar um novo ímpeto a espiritualidade que anima a sua vida cristã, antes de tudo, e de religioso depois, e assumir com renovado entusiasmo e motivado empenho a sua missão na Igreja e no mundo de hoje.
Não é um regresso simples e nostálgico ao passado, mas expressão de uma vontade determinada de destacar os valores fundamentais de nossa identidade como religioso saletino e de verificar sua relevância e sua implementação hoje com um olhar particular para o futuro.

Redescoberta de Maria na história da salvação
A celebração deste aniversário também tem o objetivo de permitir a cada um de nós de redescobrir o papel fundamental que Maria teve na história da salvação e também o significado importante do seu “fazer-se peregrina” junto à Igreja de todos os tempos.

Maria se apresenta em La Salette como uma mãe que realmente traz em seu coração o bem material e espiritual de seus filhos, e as abundantes lágrimas que irrigam seu rosto atestam isso de uma maneira irrefutável, e é consciente que debaixo da cruz, alguns momentos antes de expirar , Jesus nos confiou a Ela na pessoa do apóstolo João: “Mulher, eis aqui o seu filho … filho, eis aqui a sua mãe” (Jo 19,25–27). E, a partir daquele momento, Ela assumiu a missão que lhe fora confiada pelo Filho, com um profundo sentido de responsabilidade materna e fidelidade absoluta. Sua tarefa principal é apresentar-nos a Jesus que, por amor, aceitou morrer na cruz por nós.
…e da nossa vida de religiosos saletinos

Dado que a Congregação dos Missionários de La Salette nasce como resposta ao convite da Bela Senhora aos dois pastores Maximino e Melânia no final de sua aparição “Pois bem, meus filhos, transmitireis isso a todo o meu povo”, Maria ocupa, certamente, um lugar particularmente importante e de todo respeito, em sua espiritualidade, assim como se pode ver também nas várias referências presentes na nossa Regra da vida.
“Fiéis às nossas origens, professamos um profundo amor a Maria, Mãe de Cristo e da Igreja. Com o nosso apostolado, seguimos o exemplo da Serva do Senhor que foi constituída Reconciliadora, de um modo particular, aos pés da cruz” (RdV, 5). 

“É no exemplo de Maria – cuja vida é uma regra de conduta para todos – e a cuja intercessão incessante sustenta os nossos esforços, que nós queremos viver nossa consagração religiosa. Empenhados em responder ao chamamento que nos repete continuamente com a sua Aparição, esforçamo-nos por nos dedicar inteiramente, como Ela, a serva do Senhor, à pessoa e a obra de seu Filho” (RdV, 13).

Para nós, missionários de La Salette, Maria é, portanto: mãe, porquanto a sua aparição e sua mensagem são a origem de nossa existência como Congregação na Igreja; modelo de discípula porque nos convida a “fazer o que seu filho nos dirá” (Jo 2,5) e colocá-lo no centro de nossa vida (RdV, 7); exemplo e regra de conduta para a nossa vida religiosa e apostólica, convidando-nos a colocar toda a nossa força ao serviço da proclamação do Evangelho para a realização do mistério da reconciliação na Igreja e no mundo (RdV, 4).

Que a Bela Senhora continue a ressoar em nosso coração e na nossa mente o sincero convite dirigido a Maximino e Melânia no final de sua Aparição: “Pois bem, meus filhos, transmitireis isso a todo o meu povo” para que nos tornemos cada vez mais naqueles missionários prontos a professar e testemunhar com sua vida religiosa diante de qualquer pessoa e de todos os lugares um amor profundo, apaixonado e total a Cristo que os amou até ao fim (RdV, 10cp).

Em nome do Conselho Geral desejo a todos, religiosos, jovens em formação, leigos saletinos e Irmãs Saletinas, que vivam intensamente, na companhia de Maria, este ano de preparação da celebração do 175º aniversário da Aparição como um verdadeiro tempo de graça e de renovamento espiritual e pastoral que o Senhor nos concedeu na sua bondade e misericórdia.

Sempre o vosso,
Pe. Silvano Marisa MS
Superior Geral